Terceira Casa?
No mapa astral, a Terceira Casa é o setor das comunicações e expressões,
textos, falas e pensamentos. Sobre o quê? Sobre si mesmo, sobre o mundo ao
redor, sobre tudo. É isso aqui.
sábado, 3 de dezembro de 2011
Céu de Sagitário
Nivaldo Pereira
Texto publicado no jornal Pioneiro, 04/12/2009
Em Sagitário, a gente quer sentido. Quer saber das tais coisas entre céus e terra, saber de mistérios e vãs filosofias. Em Sagitário, a gente quer achar um lugar para Deus, se na sala, no quarto, no sótão iluminado ou no porão sombrio. Sob o céu deste Sagitário, eu vi dois espetáculos teatrais, dois monólogos de mulheres sobre textos de duas escritoras. Ambas sagitarianas: Adélia Prado e Clarice Lispector. Ambas falam de Deus. Coincidência? Sob um céu de Sagitário, não há coincidências.
Em Adélias, Marias, Franciscas..., a atriz e bailarina Maria Falkenbach viajou na obra da mineira Adélia Prado, divina Adélia de Divinópolis. O sotaque brejeiro definiu no palco uma mulher entre o cotidiano e a fé em Deus. Um Deus refletido no feijão diário e na roupa do varal, no desejo sensual e no sonho de amor. Um Deus que soma e subtrai. Adélia escreveu: “De vez em quando Deus me tira a poesia. / Olho pedra, vejo pedra mesmo.”
No Sagitário de Adélia, a flecha para Deus desenha no espaço o mapa do humano. Diante da goiaba madura, o mistério se revela: “o Reino é dentro de nós, / Deus nos habita. / Não há como escapar à fome da alegria!" E há tantas fomes nesse corpo, obra de Deus: “Meu coração bate desamparado / onde minhas pernas se juntam. / É tão bom existir!”
E sob Sagitário eu vi também Beth Goulart em Simplesmente eu, Clarice Lispector. Em cena, a figura estranha e fascinante de Clarice. A estranheza e o fascínio da vida, carecendo de significado. Que surge ameaçador, no clarão repentino de um cego mascando chicletes; ou que desafia a ordem anterior, ante um rato morto sob o sol. É Deus nas epifanias de toda hora.
Em Clarice, Deus é falta: ”Estou ferindo muita gente. E Deus tem que vir a mim, já que eu não tenho ido a Ele.” Ou a aceitação do escuro interior: “enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado e o jogo da minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe.”
Adélia, Clarice, Deus. Sob esse céu sagitariano, atiro minhas próprias flechas ao Deus que me espelha. Dentro, o coração apenas bate. Mistério da vida.
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