Terceira Casa?

No mapa astral, a Terceira Casa é o setor das comunicações e expressões,
textos, falas e pensamentos. Sobre o quê? Sobre si mesmo, sobre o mundo ao
redor, sobre tudo. É isso aqui.







sexta-feira, 1 de julho de 2011

Nosso lugar no mundo


Nivaldo Pereira
Crônica publicada no Pioneiro, 01/07/2011

Na gélida noite do último sábado de junho, os caxienses que foram ao Sesc ver o Concerto de Ispinho e Fulô saíram de coração fervente de emoção. O espetáculo do grupo paulista Cia do Tijolo, em turnê pelo sempre elogiável projeto Palco Giratório do Sesc, mais do que apresentar vida e obra do poeta cearense Patativa do Assaré e de contar a saga do místico Arraial do Caldeirão, promoveu uma degustação literal da essência do Brasil. Digo literal porque, em certa hora de festa, foram servidos à platéia cafezinho quente, cajuína e uma pinga mineira daquelas. Teatro de imersão, experiência de vida, coisa boa demais.

Cajuína? Muitos estranharam o nome do refrigerante de suco de caju tão popular no Nordeste. Mas se permitiram uma entrega àquela saborosa aventura algo circense, confiantes na trupe de atores, cantores e músicos sobre uma lona em que o mapa do Brasil tinha seu contorno.

A vivência em torno de Patativa do Assaré e seu mundo regional revelou-se um mergulho na alma universal do homem, a responder com arte aos desafios da realidade. Ainda que as cores, hábitos, falares e sons nordestinos tenham dado o tom da narrativa, o que cada espectador experimentou foi um contato prazeroso com sua própria alma, sua terra, seu eixo único, sem os quais o viver perde em sentido.

Essa crônica não é somente a confissão de uma profunda emoção sentida em tempos gelados. Tampouco quero suscitar a inveja em quem não foi ver a peça. Quero é pegar o mote do canto amoroso à própria origem para lançar a opinião, talvez fruto do meu olhar forasteiro, de que falta a Caxias do Sul uma abordagem mais gentil e afetiva para consigo mesma.

A regra é dizer que Caxias é fria, Caxias é difícil, Caxias é dose. Mesmo quando louvada, é por traços redutores como “lugar de trabalho e seriedade, terra de oportunidades”, alçados a aborrecidas e repetitivas elegias. Ora, convenhamos, uma cidade, um lugar de viver, é bem mais que isso.

Todo jardim tem flores e espinhos. Olhar apenas os espinhos ou apregoar a perícia dos jardineiros já é uma questão de opção.

Desperta para tuas flores, Caxias!

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