Terceira Casa?

No mapa astral, a Terceira Casa é o setor das comunicações e expressões,
textos, falas e pensamentos. Sobre o quê? Sobre si mesmo, sobre o mundo ao
redor, sobre tudo. É isso aqui.







sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Até o próximo parto


Nivaldo Pereira

Crônica publicada no Pioneiro, 16/11/2011

No jornal Pioneiro, já escrevi quase 600 crônicas, em mais de 11 anos. É texto a dar com pau. Esse inventário, à guisa de making-of, primeiramente atende a um velho gosto meu pela metalinguagem. Volta e meia, estou a falar da crônica na própria crônica, de sua estrutura e intenções, de sua composição. É cíclica essa motivação, sem que eu a planeje. Isso porque aprecio a forma do texto, a mancha gráfica das letras impressas no papel, e também gosto das entrelinhas, dos bastidores das idéias.

Mas, se outra vez disponho-me a falar do ato de escrever a crônica, e se já começo fazendo as contas da produção acumulada, não será para me sentir um veterano no oficio – embora uns me vejam nessa condição. Pelo contrário, será para reiterar a angústia que me toma antes da escrita. Sempre.

Já me disseram que meu texto flui, como se fruto de um jorro espontâneo da mente, ao sabor dos dedos ágeis no teclado. Não pode haver impressão mais errada. Escrever, para mim, é sempre um sofrimento. E dedos ágeis? Eu cato milho até hoje...

Tem cabimento um marmanjo com quase 600 crônicas nas costas ainda querer fugir antes de começar uma nova? Pois é o que acontece comigo. Por força de duas senhoras gordas e espaçosas que moram dentro de minha neurótica cabeça: Dona Autocrítica e Dona Expectativa. Não sou daqueles caras que chegam em casa tomados de inspiração e correm ao computador para escrever. Se a inspiração vem, eu espero ela passar!

Tampouco uso meu tempo livre para escrever o que for. Escrevo por obrigação. Sem a pressão do prazo, não sai uma linha desses dedos. Tenho coisas melhores a fazer do que sofrer diante de um teclado. É por isso que me causa desconforto ser chamado de escritor. Ah, tá, escritor! Fala sério...

Agora, amigo leitor, já lhe ouço perguntar por que diabos insisto nesse ofício. É porque, vencido o início paralisante, tendo calado as matracas das duas gordas, é puro tesão terminar um texto. A sensação é de recompensa. É como dar à luz um ser. Aliás, acho que entendo as mulheres quando alardeiam a insuportável dor do parto, mas não se negam à próxima gestação.

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