Terceira Casa?

No mapa astral, a Terceira Casa é o setor das comunicações e expressões,
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redor, sobre tudo. É isso aqui.







sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Bandeira sem amor


Nivaldo Pereira
Crônica publicada no Pioneiro, 19/11/2010

Na memória, uma aula de Educação Moral e Cívica, na década de 1970. Qual o dia da bandeira? Dezenove de novembro, professora. Agora, quem sabe o nome do poeta que fez a letra do Hino à Bandeira? Olavo Bilac, professora. Isso mesmo. Olhem a beleza desses versos do refrão: “Recebe o afeto que se encerra, / Em nosso peito juvenil, / Querido símbolo da terra, / Da amada terra do Brasil.” Todos aqui amam o Brasil? Siimm. Claro que sim! Naquele tempo, a regra era clara: Brasil, ame-o ou deixe-o.

Ainda os versos de Bilac no hino: “Sobre a imensa Nação Brasileira, / Nos momentos de festa ou de dor, / Para sempre, sagrada bandeira, / Pavilhão da Justiça e do Amor!” Justiça e amor? Tudo bem, falta muito, mas estamos a caminho. Irônico é saber que logo na criação da nossa bandeira foi feita uma injustiça ao amor. A faixa branca ao centro deveria conter o lema positivista: “O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim” Frase longa. Abreviaram para “ordem e progresso”, o amor ficou de fora. Por que não “amor, ordem e progresso”?

Talvez não coubesse mesmo o amor no pavilhão de uma nação forjada em modelos autoritários, acostumada a golpes e desmandos dos poucos que, desde a origem, detêm o poder. Nesse padrão, até o amor é imposto: ame o Brasil ou deixe-o. E seguimos cheios de amor clandestino, encerrado em nossos peitos. Amamos de menos o que somos, amamos demais o que não temos. Amamos sem ordem, à margem do progresso. Somos amáveis em demasia: eis nossa delícia e nossa dor.

Corta rápido para Bruxelas, em 2009. Sentado, esperando o trem para Amsterdã, apoiei o mochilão de turista entre as pernas. Em frente, um menino de uns cinco anos passeava, enquanto a mãe falava ao celular. O guri arregalou os olhos, quando percebeu, em minha mochila, uma bandeira brasileira bordada. “Olha, mãe, Brasil, Brasil!”, saiu gritando. Eles eram brasileiros, vivendo na Europa. A mãe não veio ver. Eu e o guri nos olhamos, cúmplices de um afeto difícil de traduzir em nossos peitos juvenis. Naquele breve instante, fomos irmãos. E a grandeza da pátria vibrou em nossos corações.

2 comentários:

  1. Nivaldo Lindas suas palavras, vejo que exercemos nosso papel transformador no mundo num processo de desenvolvimento na arte de amar,eu aqui e voce num intercâmbio de almas.

    Beijos.Madá

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  2. Lindo demais...
    Esta semana precisei revirar minhas coisas para achar um documento perdido! Encontrei, sem querer, uns recortes de jornal dos tempos em que só conhecia teus textos. Mostrei bobo para maínha: "olha só o que achei!"
    É bom ver que sigo (depois de 6 anos) ainda bobo lendo o que você escreve!
    Beijo, queridão!

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