Terceira Casa?
No mapa astral, a Terceira Casa é o setor das comunicações e expressões,
textos, falas e pensamentos. Sobre o quê? Sobre si mesmo, sobre o mundo ao
redor, sobre tudo. É isso aqui.
terça-feira, 29 de março de 2011
Sonho meu, ninguém tasca
Nivaldo Pereira
Crônica publicada no Pioneiro, 25/03/2011
Daqui a 90 anos, poderemos gravar nossos sonhos. A suposição é do físico Marcelo Gleiser, em ensaio de futurologia no jornal Folha de S. Paulo. Em seu artigo, Gleiser citou muitas outras possibilidades da ciência e da tecnologia para daqui a décadas, mas esse tópico do sonho foi o que mais me impressionou. Que fascinante! Já pensou poder registrar em cores as mensagens simbólicas do nosso inconsciente?
Se isso for mesmo possível, as sessões de terapia vão parecer cinema, com paciente e terapeuta examinando o quadro a quadro de um sonho no telão da sala. Volta a imagem. Aí, aí, congela. Quem é essa mulher de vermelho do outro lado da rua? De quem é esse cachorro? Avança a imagem. Por que você está em cima do telhado? Falando sério, tal recurso será uma jóia para resolver traumas e problemas afins. Que avance a tecnologia.
Sonho e cinema são mesmo indissociáveis. Não é à toa o cinema ser chamado de indústria ou fábrica de sonhos. Em termos literais, desde o clássico surrealista O Cão Andaluz, de 1928, sonhos fazem parte da narrativa de filmes. O mais recente do gênero, A Origem (Inception, 2010), é uma sofisticada ficção científica a partir da estrutura psíquica dos sonhos. Na trama, sonhos humanos são invadidos por especialistas em plantar na mente das vítimas certas intenções. Daí, as ações da vítima serão motivadas pelo que foi inserido em seus sonhos. Perigo! Perigo!
Com o avanço das tendências atuais de invasão de privacidade, a gravação de sonhos poderá ser bem nefasta. O sonho é o que há de mais particular e secreto em nossa vida – secreto até para nossa consciência. Se ele for devassado, estaremos fritos. Revistas de fofocas – que jamais deixarão de existir – vão alardear: “Tudo sobre o novo sonho erótico do presidente!”.
E o que dizer do nosso mistério pessoal? Acho que certas coisas devem permanecer enigmáticas até para nós mesmos. Poderemos não suportar ser um livro aberto. Deixemos que os sonhos sigam camuflando e compensando nossos medos e desejos mais íntimos. Segredo é bom, e todos nós gostamos. Sonho meu, ninguém grava, ninguém tasca.
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