Terceira Casa?

No mapa astral, a Terceira Casa é o setor das comunicações e expressões,
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redor, sobre tudo. É isso aqui.







sexta-feira, 17 de junho de 2011

Procissão


Nivaldo Pereira
Crônica publicada no Pioneiro, 17/06/2011

Olha lá, vai passando a procissão, se arrastando que nem cobra pelo chão. As pessoas que nela vão passando, acreditam nas coisas lá do céu. Acreditam piamente em Santo Antônio, o homenageado deste chuvoso 13 de junho.

São centenas, talvez milhares, de devotos do santo, cuja imagem, entre flores, vai num andor sobre um automóvel. Desde a saída do cortejo, às seis em ponto da tarde, de defronte à igreja do santo, no bairro de mesmo nome, centro antigo de Salvador, uma banda musical de sopros e bumbos dá o tom das rezas.

Se milagres desejais, recorrei a Santo Antônio. Rogai por nós, ó Antônio, lá no céu. Bem merecestes ter, com amor, em vossos braços, o Salvador.

E segue a cobra humana pelas ladeiras do vizinho bairro do Barbalho. Castiçais feitos de garrafas plásticas protegem as velas acesas do vento. Velhinhas seguram terços. Outras levam imagens do santo. Tem quem leve flores. Tem quem leve, pela mão, o filho que recebeu graças. Tem quem leve, pelo braço, o amor conquistado. E tem gente de mão vazias, a pedir, pedir.

Nas sacadas dos sobrados da velha São Salvador, moradores estendem toalhas de renda branca, sobre as quais outras imagens antoninas saúdam os passantes. Alguns atiram pétalas de rosas, outros aplaudem ou acenam. E, de repente, chove.

Abrem-se guarda-chuvas e sombrinhas, tingindo-se a procissão de lindo efeito estético. Desprevenido, eu me ensopo no aguaceiro. Covardia correr, desistir. Baianos gostam de banhos cheirosos, de ervas e flores. E quem haveria de dizer que tal chuva não vinha abençoada?

Súbito, a rua se estreita. Poças de lama por entre o calçamento quebrado. A realidade se impõe. Ao meu lado, alguém reclama: “Este Barbalho está entregue às baratas”. Mas os cânticos não cessam. Agora a banda puxa temas antoninos da canção popular. Uma levada animada, quase carnavalesca. É impressão minha ou o padre está dançando?

Eu revejo lugares por onde muito andei e por onde há muito não passava. Casas típicas, ruas seculares, caras felizes de gente que crê na vida.

E, na procissão, reaprendo a lição baiana: vamos andar com fé, que a fé não costuma “faiá”.

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