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sexta-feira, 18 de março de 2011

Cacetinhos de gaúchos e baianos


Nivaldo Pereira
Crônica publicada no Pioneiro, 18/03/2011

Tem coisa melhor que sanduíche com pão cacetinho bem crocante? Enquanto devoro um, me dou conta de uma curiosidade lingüística: no Brasil, o termo cacetinho só se aplica ao pão de cada dia no Rio Grande do Sul e na Bahia. Como sou um baiano agauchado, o negócio me diz respeito duplamente. Por que essa palavra só vingou nesses dois estados? Alguém me explica?

Se ainda fossem estados vizinhos, tudo bem, seria coisa típica de processos culturais regionais e óbvios. Mas tem muito chão entre os pagos gaúchos e as plagas baianas. Nesse intervalo, há uma multidão disposta a tirar sarro a cada vez que um gaúcho ou um baiano pede cacetinhos na padaria. Já aviso: não me venham com piadinhas infames, que, em defesa de minha dupla cidadania, eu rodo a baiana, faço o rebenque estalar e desço o cacete!

Seguindo a questão, resolvo dar uma goolglada no assunto. Nada de útil, além de muitas páginas com malícias e piadas, sobrando quase sempre para o gaúcho. De quebra, descobri que o pão francês, como é chamado o cacetinho em muitos lugares, não tem nada de francês. É uma invenção brasileira para imitar o aspecto externo do baguete francês, com outro sabor. Ou seja, chamar o cacetinho de pão francês é tão sem sentido quanto fazer gozação do termo cacetinho.

Saber o ponto de interseção cultural entre gaúchos e baianos sobre a nomeação do pão cacetinho acaba de virar um problema pessoal para mim, que gosto de antropologia e história. Num mar de futilidades acadêmicas, isso pode até me render tema para uma possível tese de doutorado. Duvidam?

Vai que eu descubra que foi Bento Gonçalves, quando fugiu da prisão em Salvador para comandar a Revolução Farroupilha, quem trouxe no alforje uns pãezinhos chamados pelos amigos baianos de cacetinhos. Ou, na rota contrária, teria sido Jorge Amado, ao visitar o amigo Erico Verissimo, na década de 1940, quem levou para a Bahia uns cacetinhos de Porto Alegre e os divulgou como iguarias de Dona Flor.

O assunto agora me empolga, e me dá fome. Enquanto a pesquisa não começa, para comemorar, mando ver mais um sanduba. Com cacetinho.

2 comentários:

  1. Oi, Nivaldo! Esta é novidade para mim. :)
    Aqui no Rio, veja só, o pãozinho é 'pão de sal'. Sem graça, né?

    Lá em Floripa se diz 'pão de trigo'. :)

    Deu até vontade de comer um cacetinho.
    Beijos.
    Rafaela

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