Terceira Casa?

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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Crônica do Brasil


Nivaldo Pereira
Crônica publicada no Pioneiro, 22/04/2011

A Semana Santa, o Brasil, o dia 22 de abril, esta crônica. Tais assuntos estão intimamente ligados, feito obra do destino. Quer ver? Foi no período da Semana Santa, a 22 de abril de 1500, que a frota portuguesa chefiada por Pedro Álvares Cabral avistou os chãos que depois seriam chamados de Brasil. A terra à vista dos marinheiros se constituía de um verdejante pico, batizado de Monte Pascoal, pela proximidade da Páscoa, e de uma planície de arvoredos, nomeada Terra de Vera Cruz. Este foi o fato inaugural de um país onde, 511 anos depois, um cronista de sobrenome português aqui está a escrever em português.

Todo o processo de achamento da nova terra foi minuciosamente descrito ao rei de Portugal, D. Manuel, pelo escrivão da frota, Pero Vaz de Caminha. A célebre carta, escrita no calor da hora da descoberta, é considerada uma original certidão de nascimento do Brasil e marco fundador de sua literatura. Essa carta era uma crônica, no sentido dos relatos em ordem cronológica que pontuavam as narrativas de viagens. Ou seja, o Brasil nasce anunciado, em tempo real, por uma crônica. E talvez seja a única nação moderna a ter uma escritura desse tipo. Lavrado em papel pela crônica, estaria o Brasil fadado a este gênero literário?

O certo é que a carta de Caminha foi guardada a sete chaves em Portugal, para evitar a cobiça dos espanhóis. O texto só veio à luz em 1773, quando ganhou uma cópia, enviada de volta ao Brasil e publicada, por fim, em 1817. Por essa época, a crônica já tinha migrado dos relatos de viagens para os jornais. Já dava conta de outros cotidianos, não tão grandiosos quanto a descoberta de um mundo. Nessa terra em que, no dizer de Caminha, em se plantando, tudo dá, a crônica cresceu fértil, viçosa, como se originária do Brasil fosse.

Estudiosos da literatura falam até de uma vocação brasileira para os gêneros artísticos menores, como a crônica e a canção popular, em vez da grandeza do romance e da sinfonia. Estava escrito, não? Então, sem culpa, cultivemos a leveza da crônica, deixando aos cronistas o desafio de fazê-la sobreviver ao dia seguinte.

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