Terceira Casa?

No mapa astral, a Terceira Casa é o setor das comunicações e expressões,
textos, falas e pensamentos. Sobre o quê? Sobre si mesmo, sobre o mundo ao
redor, sobre tudo. É isso aqui.







segunda-feira, 4 de abril de 2011

Saudosas palavras


Nivaldo Pereira
Crônica publicada no Pioneiro, 01/04/2011

Palavras, palavras: minha paixão, meu ganha-pão, meu ócio, meu ofício. Talvez seja sina de geminiano, padrão arquetípico natural, o certo é que sou da palavra, seja escrita, falada, cantada ou pensada. Divirto-me em ver palavras nascerem e ganharem corpo, no alimento da saliva das bocas. De repente, já deleto, antes de esquecer ou ignorar; já printo, antes de escrever ou copiar. Ah, palavras vivas, eterno movimento da língua! E a saudade das palavras? Tantas, tantas que o tempo apagou ou que ficaram restritas a redutos regionais. Vou buscar algumas nos vãos da minha memória. Glossário de uma infância no quase sertão baiano. Palavras que sempre achei engraçadas.

Aviar. “Avia com isso, menino!” Palavra com o sentido de adiantar, acelerar. Na mansidão baiana, tem sempre alguém mandando o outro aviar...

Brear. “A criança está toda breada.” Quer dizer, toda suja, quase sempre de cocô. Explosão de diarréia sempre deixa a pessoa breada.

Babatar. “Fui babatando pelo quarto, até achar o interruptor.” Fala de usar o tato para achar as coisas, tatear às escuras. A célebre mão boba vive de babatar.

Cacunda. “Leva o filho na cacunda.” Ou: “Já tem 20 anos na cacunda.” Nas costas.

Desmazelado. “O empregado novo é desmazelado.” Sem cuidado, estabanado.

Desassuntado.”Tome vergonha, seu desassuntado, se assunte!” Sem noção, desaforado, tome tento. Amo esse xingamento. Nos outros, é claro.

Escabrear. “Ela ficou escabreada, quando eu disse que já sabia de tudo.” Ficar sem chão, sem graça. A sensação é horrível, a pressão cai, a pele empalidece...

Estruir. “Ô, mãe, Sérgio tá estruindo a comida!” Desperdiçar, jogar fora.

Madorna. “Quieto, menino, que teu pai tá tirando uma madorna.” Soneca da tarde, tipo depois do almoço.

Malino. “Que moleque malino! Filho do cão!” Travesso, hiperativo, endiabrado. Praticante de malinezas.

Ronceiro. “Esse jegue é muito ronceiro.” Preguiçoso, empacador, só vai na base da porrada.

Ripiquete. “Fulano deu um ripiquete e saiu.” Tem sentido de impulso, repente.

Oh, o espaço acabou! Eu paro aqui, aqui me escarrapacho, senão darei uma tungada na linha de baixo.

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