Terceira Casa?

No mapa astral, a Terceira Casa é o setor das comunicações e expressões,
textos, falas e pensamentos. Sobre o quê? Sobre si mesmo, sobre o mundo ao
redor, sobre tudo. É isso aqui.







segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Balada de dezembro



Nivaldo Pereira
Crônica publicada no Pioneiro, 03/12/2010

Parece dezembro. O mês pouco importa, mas esse triângulo verde no fundo da foto tem todo jeito de árvore de Natal. É que fotografias desbotam feito a memória da gente, baby, e os detalhes vão ficando assim, embaçados, convidando a imaginações. Ou a delírios. Mas o bom é que nosso sorriso está quase nítido. Parecemos felizes, verdadeiramente felizes. Engraçado: de súbito, uma canção me arrebata. Como no bolero de Tom e Chico, sinto ganas de te ligar e deixar confusões no gravador. Se eu tivesse teu número, é claro.

Guardo a fotografia na velha caixa, mas a canção permanece soando na cabeça. Still Loving You, do Scorpions. Cantávamos em dueto, imitando o tom nasal do Klaus Meine e rindo juntos da nossa pouca, ou nenhuma, extensão vocal. Sabíamos de cor a letra. Talvez eu ainda lembre. Time, it needs time / To win back your love again / I will be there, I will be there...

Tantas baladas curtidas num tempo em que fumaça de cigarro era puro charme. Agora que o fumo escancara a face assassina, baladas saíram de moda. Mesmo assim, ponho a rodar o disco do Scorpions, não mais aquele vinil – uma coletânea em CD. E para umedecer de rubro a sessão, uma dose de Campari com gelo. Ai, coisa mais retrô!

Parece bolero. Te quero? Te quero? Fim de ano tem dessas coisas. A gente vai ficando, a la Drummond, comovido como o diabo. Aí, na busca de algum documento num fundo de armário, uma velha caixa expõe fragmentos do que o coração pensou ter esquecido. E bate outra vez, com esperança de reviver, o remoído repertório de paixões. Outro lampejo: nosso antigo sonho de conhecer Berlim. Sonhos alemães, Nina Hagen, Fassbinder, Wim Wenders, asas de nossos desejos. Mas havia o muro, havia nossos tantos muros. Não deu.

Love at First Sting. Amor à primeira ferroada, era esse o vinil do Scorpions. Gostávamos de ferrões, densidades e sombras, jaquetas pretas, noites insones. Éramos darks, baby, remember? Era 1985. Hoje, deixo o sol de dezembro arrombar as vidraças da sala. A balada continua linda. Mas... Não me tocou. Pareceria bolero, dizer assim, que não quero teus beijos nunca mais?

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