Terceira Casa?

No mapa astral, a Terceira Casa é o setor das comunicações e expressões,
textos, falas e pensamentos. Sobre o quê? Sobre si mesmo, sobre o mundo ao
redor, sobre tudo. É isso aqui.







sábado, 25 de dezembro de 2010

Presépio


Nivaldo Pereira
Crônica publicada no Pioneiro, 26/12/2010

Seu José é um burro legítimo, na capacidade de carregar a vida no lombo. Trabalhador honesto e incansável, sustenta com firmeza e responsabilidade a condição de provedor do lar. Seu José é doce, nunca reclama, de tudo extrai contentamento, jamais afrouxa o passo. Quem o vê assim, delicadamente se fazendo de burrinho com o neto nas costas, não imagina a força e a garra desse homem.

Dona Maria é feito uma vaca, no que esse animal carrega de sagrado, o sagrado de quem sacraliza cada ação cotidiana. Dona Maria tem mil utilidades. Com devoção, limpa, lava, passa, cozinha, labuta, zela, ensina, sem sossego até no sonhar uma vida melhor para os seus. No peito dela mamaram muitos filhos, no coração dela habitam esses e outros mais, milhares. Quem a vê assim, dando a mamadeira ao neto, não pode conceber a tenacidade de sua fibra.

João, Pedro e Sara são como ovelhas. Humildes e anônimos, formam uma roda gigantesca na engrenagem dos dias, com seus labores e suores. Nessa roda, os esforços conjuntos movem cidades e países, no afã de uma merecida recompensa. Na outra roda, a dos quereres, João quer, mas não tem; Pedro tinha, e perdeu; Sara espera chegar. Não estão sós. E o que querem não é só para si. Quem os percebe como desanimados, pelo desgaste da faina diária, não pode saber do vigor dos seus secretos desejos.

Pois hoje Seu José teve uma visão. Dona Maria, um anseio na alma. Sara, Pedro e João consultaram uns magos. Vieram sinais de estrelas e meninos. Seu José pensa em abrir uma marcenaria para passar sua arte aos meninos de rua. Dona Maria sente ganas de cuidar de outros filhos, quem sabe ensinar às pobres mulheres o que aprendeu sobre o uso da comida. João vê na mágica estrela sua viagem dos sonhos; Pedro, a luz de uma nova casa, e Sara, a semente radiosa de outro ser, em seu ventre.

É gente simples, na rotina de abençoados animais domésticos. Mas que, quando tocada pela estrela peregrina que percorre os corações humanos, renasce em esperança, fé e boa vontade. E todo dia é santo, toda noite é feliz. Enquanto milagres pipocam aqui e acolá, de Belém Novo a Belém do Pará.

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