Terceira Casa?

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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Festa de cores e frutas


Nivaldo Pereira
Crônica publicada no Pioneiro, 17/12/2010

Ah, verão, estação do sol no portal de dezembro. A luz incide forte sobre o Hemisfério Sul. A temperatura sobe, as cores ganham matizes brilhantes, únicos. Tudo parece conspirar para um apogeu de manifestação, numa intensidade que envolve corpos e almas. As cores do verão gritam aos sentidos, em qualquer canto, em toda esquina. É a estação das frutas e, talvez por isso, de sugestão a todo tipo de desfrute.

Do Nordeste, vem de imediato a memória dos suculentos cajus, vermelhos alguns, ou amarelos como cajás, sirigüelas e mangas, estas se repartindo também em embalagens verdes, rosadas ou mistas. É farra de dentes nas polpas, extraindo sumos; bocas se investigando e se descobrindo em áreas de doce e azedo, na regência de línguas bailarinas e incansáveis. Verão é festa nas bocas.

No Sul, as frutas são outras, mas as cores igualmente se exibem em trajes festivos. Amarelo, o pêssego é promessa de alegria. Exposto nas fruteiras, espalha gratuitamente pelas calçadas seu odor peculiar, numa arenga que confirma a chegada do verão. Quando o dourado de sua membrana, em sutil camurça, se traduz também no ouro do mel de seu gosto, a boca que o morde experimenta o gozo da vida. Sem complicações, viver é bom porque existe pêssego.

E há os tons de rubro, a se estender do bordô ao rosado das uvas, quando não verdes. Uvas brilham feito pérolas vivas, cientes, quem sabe, de seu teor mítico. Uvas parecem saber da promessa do vinho, licor de êxtase e delírio, verões de vindimas e venturas. Sim, é sublime ventura disputar um cacho com tontas abelhas, no afã de um néctar que as atrai até aos supermercados. Toda natureza fica meio louca sob o sol a pino.

Faz calor. Eis que farta da quase roxa ameixa, a boca gulosa fica atrevida: quer então deixar roxa a pele dos pescoços, quer invadir outras bocas, repartir sumos. As línguas não se bastam: querem outras, querem todas. Os corpos vibram em cor, calor, sabor. Exibem-se, exalam-se. No desfrute do verão, cada corpo vira uma fruta colorida. Festa do sol, festa da vida, no apelo mágico sobre gente, bicho, fruta. Delícia do viver.

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