Terceira Casa?
No mapa astral, a Terceira Casa é o setor das comunicações e expressões,
textos, falas e pensamentos. Sobre o quê? Sobre si mesmo, sobre o mundo ao
redor, sobre tudo. É isso aqui.
domingo, 18 de julho de 2010
Genial Aldir
Ele não tem a fama de um Chico Buarque, mas é tão genial quanto. O carioca Aldir Blanc é um dos maiores poetas/letristas de música que esse Brasil já pariu. Adoro ele, sempre adorei, desde as antológicas parcerias com João Bosco na década de 1970. Virginiano, Aldir tem olho de lince para as coisinhas miúdas onde a poesia do cotidiano costuma se esconder. Quem mais falaria com tanta arte da "ponta de um torturante band-aid no calcanhar"? Ou no "risco de sombra em teus cílios"? Irônico, engraçado e terno, ele escreve e escreveu canções imortais sobre nós, gente comum, classe média de vilas e suburbanos corações. Hoje pus a tocar um disco em que ele ataca de cantor: Vida Noturna. Reproduzo a letra de Lupicínica, cruel e encantadora, uma homenagem óbvia ao gaúcho Lupicínio Rodrigues. Doeu? Ora, siga o baile, dois pra lá, dois pra cá, que a esperança equilibrista sabe que o show deve continuar.
LUPICÍNICA
Amei
uma enfermeira do Salgado Filho,
paixão passageira, sem charme nem brilho,
roteiro batido, romance na tarde.
E aí, numa seresta na Dois de Dezembro,
me perguntaram por ela: "-Nem lembro...",
eu respondi com um sorriso covarde.
Ouvi - que bofetada! - "Morreu duas vezes.
Uma aqui e agora, a outra há seis meses".
Balbuciei: "-Morrida ou matada?"
"-Depende do seu conceito de assassinato.
Um pobre amor não é amor barato.
Quem fala de tudo não sabe de nada."
Na rua do Tijolo, bloco 5, aquele de esquina,
morou uma enfermeira com a chama vital de Ana Karenina.
Dirá um dodói que Tolstói era chuva demais pra tão pouca planta.
Ô trouxa, heroínas sem par podem brotar na Rússia ou lá em Água Santa...
Aquela mulher que dosava o soro nas veias dos agonizantes
não teve sequer um calmante pra dor sem remédio que aflige os amantes.
Por mais que a literatura celebre figuras em vã fantasia
ninguém foi mais nobre que a Pobre da Enfermaria.
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Não sei em que recanto da blogosfera foi parar um comentário que fiz aqui na primeira vez que entrei na Terceira Casa, mas lembro de ter escrito que, desde então, eu ia ficar sempre "assuntando" por aqui, à espera dos seus textos. É o que tenho feito... Gosto de ler você.
ResponderExcluirBeijos
Dôra
Vou passar a frequentar essa terceira casa a partir de agora...hehehe grande abraço
ResponderExcluirOlá. Li uma crônica sua no Blog Sacudindo Palavras e gostei bastante...falavra sobre como reclamamos das coisas...
ResponderExcluirLindo texto, parabéns!
Vou passar sempre por aqui.. também tenho um blog, faça uma visita... www.tamyrisaraujo.blogspot.com
Abraço
Aldir é um nobre, tal como a enfermeira do poema, que todos deveríamos conhecer. :D
ResponderExcluirMe perdoe amigo, mas o Aldir Blanc é paraense.
ResponderExcluirPesquise ai...
abs
Luis
Oi, Luis. Não encontrei em nenhum lugar essa referência ao Aldir como paraense. Até nos livros dele consta como nascido no Rio... Abraço. Nivaldo
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