Terceira Casa?
No mapa astral, a Terceira Casa é o setor das comunicações e expressões,
textos, falas e pensamentos. Sobre o quê? Sobre si mesmo, sobre o mundo ao
redor, sobre tudo. É isso aqui.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Sertões de poesia
"Muita coisa importante falta nome", diz o ex-jagunço Riobaldo, no relato da sua jornada de autoconhecimento pelos sertões. Buscar o nome das coisas, mapear as terras de dentro e de fora do homem: eis algumas rotas de leitura do assombroso Grande Sertão: Veredas, que eu devorei, transido de êxtase, há poucos dias.
Havia uma lacuna grave, quase inconfessável, em minha formação de leitor: não conseguira ir adiante nesse livro, quando eu tinha uns 20 e poucos anos. Tinha travado na linguagem, na narrativa longa sem capítulos - e são mais de 600 páginas. Naquele tempo, eu não estava mesmo preparado para entrar no Grande Sertão do Rosa. Pois agora, graças aos deuses da serenidade, fui arrebatado pela prosa poética do livro. Bastou me entregar à fala do Riobaldo. Quando mais lia, mais tinha ganas de gritar, feito a alegria de Riobaldo ao aprender, com Diadorim, a apreciar a beleza e a delicadeza das coisas. Em meio à aspereza violenta do mundo dos jagunços em guerra, Guimarães Rosa nomeia as dobras do coração do homem com toque de gênio. Reparem este trecho, em que Diadorim/Reinaldo mostra passarinhos a Riobaldo:
"Até aquela ocasião, eu nunca tinha ouvido dizer de se parar apreciando, por prazer de enfeite, a vida mera deles pássaros, em seu começar e descomeçar de vôos e pousação. Aquilo era para se pegar a espingarda e caçar. Mas o Reinaldo gostava: -'É formoso próprio...'- ele me esinou. Do outro lado, tinha vargem e lagoas. P'ra e p'ra, os bandos de patos se cruzavam. - 'Vigia como são esses...' Eu olhava e me sossegava mais. O sol dava dentro do rio, as ilhas estando claras."
É impossível a gente não seguir Riobaldo e nomear junto as ilhas e chapadões do nosso próprio coração, em seus claros e escuros. Quando acabei o livro, entre lágrimas, custei a me despedir dele. Entendi o que diz meu mestre Flávio Loureiro Chaves:"Quando se termina de ler Grande Sertão:Veredas, se está pronto para ler... Grande Sertão:Veredas". Para dar um tempo no livro, e não no Rosa, mergulhei nas Noites do Sertão. Eu acho que o Rosa tinha parte com o cão... Vai ser mágico e maravilhoso assim no inferno!
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Nivaldo, parabéns pelo blog. Que muitos e muitos bons textos venham por aí, pra deleite dos leitores.
ResponderExcluirMire e veja (nas palavras de Guimarães Rosa): você é um escritor que eu sempre leio com grande prazer.
abraços
Rejane Romani Rech
Nivaldo, que vergonha a minha, nunca lí Grande Sertão: Veredas...
ResponderExcluirA fila de livros para leitura é tão grande... Vou ver se consigo fazer com que ele fure esta fila! rs