Terceira Casa?
No mapa astral, a Terceira Casa é o setor das comunicações e expressões,
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redor, sobre tudo. É isso aqui.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
O maior golpe do mundo
Nivaldo Pereira
Crônica publicada no jornal Pioneiro, 30/07/2010
Antes que julho acabe, vale lembrar que neste mês faz 50 anos que o gaúcho Victor Matheus Teixeira, o Teixeirinha, teria lançado a canção que mudaria para sempre sua vida. Coração de Luto, narrando em tintas extremas “o maior golpe do mundo” – a perda da mãe num incêndio -, em poucos meses tornou-se um fenômeno sem par na música brasileira. Vendeu cerca de um milhão de discos, segundo os pesquisadores Jair Severiano e Zuza Homem de Mello. Consta que a gravadora não dava conta de prensar discos para atender a tantos pedidos, fazendo a canção ser vendida a preços exorbitantes em mercados negros. De um lado, era o Brasil se debulhando com o relato de dor terrível; de outro, críticos tentando entender o que se passava.
Os estudiosos citados atribuem tanto sucesso também a um público que tripudiou Coração de Luto, rebatizando-a de “Churrasquinho de Mãe”. Não concordo muito com essa visão. É fato que a música apela, foi feita para arrancar lágrimas, mas acho difícil que seus detratores tenham contribuído tanto para um sucesso que poucos anos depois chegaria ao cinema, no filme homônimo. Entendo mais a coisa como manifestação do fascínio humano pela tragédia, que desde os antigos gregos dá o que falar. Aristóteles já dizia que a tragédia encenada, suscitando a compaixão e o terror, tem por efeito obter a purgação dessas emoções. É pura catarse: vamos chorar a desgraça alheia para evitar que ela desabe sobre nós.
Dos gregos a William Shakespeare, passando depois pela ópera italiana, até chegar ao moderno teatro brasileiro de Nelson Rodrigues, mortes, tragédias e assassinatos nunca saíram de cartaz. Grande arte mesmo é falar disso sem apelação. E foi bem ali, pelos anos 1960, quando os teóricos da comunicação viam a confirmação das idéias sobre indústria cultural e kitsch – uma estética voltada às massas, com intenção de provocar um efeito já definido – que Teixeirinha lançou em música sua história triste feita para judiar corações. Goste-se ou não, ninguém pode tirar dele o mérito de inserir o Rio Grande do Sul na canção popular brasileira. E no cinema de massas também.
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Apesar de vez por outra ouvir Teixeirinha aqui por casa, não sabia dos 50 anos da música. É, provavelmente tu tem razão, é melhor chorar a desgraça alheia, é mais fácil, é mais belo, por isso o sucesso de grandes dramas musicais, literários, teatrais e todos mais que possam haver. Do mesmo modo que, dizem, os romances fazem sucesso: é mais fácil adorar uma história que tu sabe que terá um final feliz do que arriscar na vida real e não ter um fim tão romântico. Eis o ser humano: prefere ser espectador por ter medo de atuar.
ResponderExcluirSabe, Nivaldo, é aquela coisa: desgraças, dramas e todo tipo de tragédia são as coisas que "vendem" mais.
ResponderExcluirOs seres humanos são estranhos, sério. Apreciam desgraças... Mesmo que inconscientemente.