Terceira Casa?

No mapa astral, a Terceira Casa é o setor das comunicações e expressões,
textos, falas e pensamentos. Sobre o quê? Sobre si mesmo, sobre o mundo ao
redor, sobre tudo. É isso aqui.







domingo, 23 de janeiro de 2011

Tupi or not tupi?


Nivaldo Pereira
Crônica publicada no Pioneiro, 21/01/2011

Olá, ouvintes. Este é o programa Mistura Brasil, nas ondas do seu rádio. No clima do verão, hoje vamos vibrar com o som esperto das guitarras brasileiras. Mas, antes de a gente falar em guitarra brasileira, vale lembrar que esse instrumento já foi execrado por muita gente boa aqui no Brasil. Em 1967, nomes como Elis Regina, Jair Rodrigues, Geraldo Vandré e Gilberto Gil fizeram coro na famosa passeata contra a guitarra, no centro do Rio. Naqueles tempos engajados, a guitarra era vista como símbolo do imperialismo norte-americano e ofensiva à música nacional. Gilberto Gil logo percebeu o mico, porque meses depois misturava guitarra com berimbau na tropicalista Domingo no Parque. A Tropicália era a arte da mistura, a cara do Brasil, esse país mestiço.

Falando em Brasil mestiço, lembro de uma entrevista em que o escritor Jorge Caldeira ligava nossa vocação para a mistura aos índios tupis. Diferentes de outras etnias nativas do recém-descoberto Brasil, os tupis valorizavam os relacionamentos com os estrangeiros e com outras tribos. Para eles, a entrada do diferente deixava a tribo mais forte. A assimilação era uma saída melhor que a dos antropófagos, que se achavam mais fortes depois de literalmente devorar o estranho. Muito se fala da miscigenação nacional, mas é bacana saber que essa disposição já estava aqui, com os tupis. Ou seja, nosso gosto pela mistura é autenticamente brasileiro.

E vamos falar de duas turmas que estão fazendo maravilhas na guitarra, com tempero local. A banda BaianaSystem resgata a sonoridade da guitarra baiana, a invenção de Dodô e Osmar, na década de 1940, que gerou o som do trio elétrico. A rapaziada da BaianaSystem faz essa guitarra regional dialogar com tudo, até com a música eletrônica. Misturança boa como a do vatapá. E a outra banda vem de Belém do Pará: La Pupuña. A batida da popular guitarrada paraense se mescla com lambada, surf music, ritmos caribenhos, pegadas de brega e muito mais. Impossível ficar parado. Melhor que pato no tucupi é sacolejar ao som da La Pupuña.

Misturas do Brasil, a grande nação tupi. Aumenta o som, DJ!

Um comentário:

  1. Uma amiga de Tocantins tem me mostrado algumas boas músicas de lá de cima, e agora tu me mostra mais essas duas boas bandas. É, realmente tem muita coisa boa nesse país, tanta que sempre temos o que conhecer! Bela crônica, belas escolhas musicais!

    ResponderExcluir