Terceira Casa?

No mapa astral, a Terceira Casa é o setor das comunicações e expressões,
textos, falas e pensamentos. Sobre o quê? Sobre si mesmo, sobre o mundo ao
redor, sobre tudo. É isso aqui.







sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Primavera nos dentes


Nivaldo Pereira
Crônica publicada no Pioneiro, 24/09/2010

Outra crônica de primavera, Nivaldo? O amigo não está ficando repetitivo? Ora, outra crônica de primavera, sim, porque primavera só acontece uma vez por ano e porque nunca é demais sair do olhar miúdo do relógio de pulso para observar e sentir um outro relógio, o do cosmo. É a Vida, assim, em V maiúsculo, que grita lá fora. Por isso, deixe o cronista se repetir e alertar que um novo ciclo se instaura na natureza. Besta é quem não vê nem aproveita isso. Que esteja antenado o leitor: hoje, sexta-feira, é o segundo dia da primavera de 2010.

Mas há tantas coisas sobre as quais seria bom chamar a atenção do leitor... A sociedade, a cidade, as eleições, o futuro, tudo isso não tem pano de sobra para tecer mangas mais úteis na crônica? Ah, mas essa pretensão de utilidade é uma bobagem. Leitor não lê crônicas em busca de utilidade. Aqui ele quer uma pausa, um descanso, uma viagem, um delírio, porque ninguém agüenta o tranco da realidade sem um refresco. Então, vamos ao refresco, cambada: nessa primavera, prometa-se uma festa sem motivo, somente para celebrar a Vida, essa com V maiúsculo.

Ok, mas por ter um espaço de comunicação ao público, o cronista não deveria se engajar em atitudes mais urgentes à causa humana? E a responsabilidade social? Pois que outro vista essa carapuça de responsabilidade social! Não é o ato de escrever e comunicar que me torna apto a dar conselhos, denunciar erros e omissões e brigar pelo leitor. Além do mais, tenho colegas ótimos nessa labuta. Deixem-me no direito de propor um coro cujas palavras de ordem repitam o estribilho do Tim Maia: é primaveeeeraaa, te amoo...

Essa atitude alienada não vai te render muitos leitores. Ser mais pontual e menos viajandão não te daria mais ibope? Ah, não, foi essa loucura de ibope que arrasou com a televisão. Tudo agora é número, índice, ganho, grana. E se é para ter números, pergunto de cá: quantos passarinhos você viu hoje? Quantas cores novas há nas árvores de sua rua? Quantas vezes sentiu o ar fresco da estação alargando os pulmões? Hoje é primavera. Sorria. Celebre. Hoje. Agora. E fim de papo.

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