Terceira Casa?

No mapa astral, a Terceira Casa é o setor das comunicações e expressões,
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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Crônicas portuguesas 4: Depois do santuário


Nivaldo Pereira
Publicada no Pioneiro, 29/05/2009

Eu tomava uma taça de vinho, num café de Lisboa, anotando em meu diário de viagem as impressões do dia. Tinha ido ao Santuário de Fátima. Fora motivações de fé pessoal, eu gosto de conhecer um país também pelo seu aspecto religioso. E ficara impressionado com a mística do santuário. Há algo no ar. Meu lado mental logo veio explicar que esse algo “fluido” é fruto das intenções de milhares de pessoas que para lá se dirigem, em busca de contato com o divino. É psiquismo coletivo. Mas que importa a origem da força? Deus lá fora, ou Deus cá dentro, como motivador, que diferença faz, se o milagre possa ser real?

Anotei no diário que a famosa azinheira, sobre a qual Nossa Senhora teria surgido para três crianças, em 1917, foi desfolhada pelo povo nos anos seguintes às aparições. Não restou nem um graveto da árvore. Outra azinheira próxima é hoje protegida por grades. Achei o máximo esse toque pagão da fé.

No meio das anotações, por uma magia absoluta (não há espaço para relatar isso), fiz dois amigos, um deles professor de história. Entre animados papos de coisas portuguesas e brasileiras, fomos jantar bacalhau na Alfama. E falei que estivera em Fátima de manhã. O historiador olhou-me decepcionado. Explicou que a exploração das tais aparições da Virgem em Fátima foi um dos grandes golpes do ditador Antônio Salazar para dominar o povo. Um embuste histórico, garantiu-me. E citou fatos e conchavos políticos, num claro relato de teoria conspiratória. Não pude esconder o espanto.

Em busca de suportes de fé mais sólidos, lembrei que estávamos perto da casa onde tinha nascido Santo Antônio, quando este ainda se chamava Fernando. Fernando? Como assim? O espanto agora era do professor. Contei que o nome de batismo do santo era Fernando, que adotara o Antônio somente quando virara franciscano. Contei ainda que o poeta Fernando Pessoa nascera a 13 de junho, dia do santo português, por isso fora batizado de Fernando Antônio. Interlocutores de bocas abertas. Surpresos.

Ah, viagens, viagens. Tem coisa melhor no mundo do que conhecer outros mundos e partilhar nossos mundos?

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