Terceira Casa?
No mapa astral, a Terceira Casa é o setor das comunicações e expressões,
textos, falas e pensamentos. Sobre o quê? Sobre si mesmo, sobre o mundo ao
redor, sobre tudo. É isso aqui.
sábado, 6 de agosto de 2011
A mala invisível
Nivaldo Pereira
Crônica publicada no Pioneiro, 05/08/2011
Mesmo o mais despachado viajante, o que carrega apenas o essencial numa mochila, mesmo esse sempre leva duas bagagens: uma visível, outra invisível. Há sempre uma “outra“ mala a nos acompanhar, presa com cadeado no armário de nossa mente. Nesta mala extra, levamos e trazemos coisas imateriais. É até óbvio constatar que costumamos voltar de viagem impregnados de inéditas emoções, aprendizados e iluminações. Viajar é oxigenar a alma. O problema é o que levamos desde casa, nessa mala simbólica.
Viagem é entrega, usufruto do novo, partilha do desconhecido. Queremos prazeres e aventuras para fora do nosso cotidiano, e é quando uma outra cultura, com diferentes paisagens e tipos humanos, nos fornece farto material a ser degustado. Estranheza, encantamento, rejeição ou assimilação serão reações possíveis, durante ou após a viagem.
Em tese, ninguém sai de casa se não quiser se abrir, relaxar, receber. Regressar com a mala invisível cheia é a glória de qualquer jornada. Só um porém: não é fácil sair com a tal mala totalmente vazia. Há bolsas secretas plenas de molduras e padrões. São nossos valores rígidos, nossos conceitos formados, nossos julgamentos – em outras palavras, nossos preconceitos.
Preconceito carregado – porque entranhado na mente – é feito entrada barrada em país estrangeiro. Um carimbo negativo, uma porta fechada por nós mesmos. Por que viajar se o tempo todo vamos procurar a mesma comida de casa e manter os mesmos hábitos e programações? Nossa moldura interna pode inutilizar a viagem. Não traremos nenhuma nova luz no espírito, por conta do excesso de bagagem de ida.
Essa questão, potencializada em viagens, é uma ampliação do nosso exercício de contato diário com o outro. Como acolhemos o outro em sua diversidade e originalidade? Que espaço abrimos para o que não faz parte de nosso mundo?
Ah, como seria perfeito se todos fossem iguais a nós... Mas aí não teríamos nada a oferecer nem a receber. Seríamos estátuas perfeitas, monumentos que os turistas de mala invisível vazia registrariam em fotografias. Curiosas imagens do que ficou parado no tempo.
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