Terceira Casa?
No mapa astral, a Terceira Casa é o setor das comunicações e expressões,
textos, falas e pensamentos. Sobre o quê? Sobre si mesmo, sobre o mundo ao
redor, sobre tudo. É isso aqui.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Vampiração
Nivaldo Pereira
Crônica publicada no Pioneiro, 27/08/2010
A vampirada está pirada. Qual o sentido de atravessar milênios de sombras e névoas, entre lúgubres esquifes e tumbas gélidas, fugindo do sol e das cruzes, se de repente ser vampiro virou moda? Cadê o estado de exceção, a condição de proscrito, o peso da maldição? Que graça tem ser hype e freqüentar o sonho de sedução das grifosas meninotas? Se a antiga vítima agora quer virar predador, qual o futuro da raça? A situação é deveras preocupante.
Não faz muito, o mal era mal mesmo, o mundo se dividia em luzes e trevas e até havia comunistas e capitalistas. Agora, tudo é crepúsculo, lusco-fusco, penumbra difusa, identidade confusa. Tudo agora é relativo, tudo pode ser. Ética, moral e bem são conceitos negociáveis e adaptáveis a situações. E como cultuar o diabo ainda pode ofender muita gente, nesses diabólicos tempos do politicamente correto, a galera foi buscar no secretário do demo, o vampiro, seu totem moderno.
Conde Drácula está trincando os caninos de raiva. Nosferatu promete lançar mil novas pragas e vírus nessa cambada sem noção. Pensam que é somente esse lero-lero de vida eterna, pele branquinha e velocidade da luz? Vão se catar! Querer fazer da minoria mais secreta e maldita uma tendência é sacanagem! Ainda mais inventando essa besteira de sangue sintético e dieta vegetariana para vampiro... E mais ainda com uma gentinha louvando a temática vampiresca por ter atraído os adolescentes ao mundo da leitura. Vampiros do bem! Tem cabimento?
Ai, que saudade da Idade Média, do inferno, purgatório e céu de Dante! Que falta faz a moral inflexível da Inglaterra vitoriana! Fosse isso naqueles tempos, os emos iam gemer no tronco do juremá. Agora, na onda do liberou geral e do pode tudo, o mal perdeu a maldade, ficou chique, virou fetiche. Já se corre o risco de se perguntar a uma criança o que ela quer ser quando crescer e a resposta ser uma só: vampiro!
Corre nas bocas miúdas e com caninos que a vampirada da velha guarda vai descer o laço num tal de Edward. Nunca a classe esteve tão em baixa, tão vulgarizada. Pois saibam todos que respeito é bom, e vampiro também gosta.
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Excelente o texto, Nivaldo! E estamos em sintonia vampírica: publiquei crônica sobre o mesmo tema no jornal em Farroupilha semana passada. Confere lá no meu blog!
ResponderExcluirAbrs
Muuuuuuito bom, Nivaldo" Muito bom mesmo!
ResponderExcluirEssa modinha vampiresca é ridícula, sério mesmo. Vampiros bonitinhos, fofinhos e do bem. Mas que besteira, que idiotice! Não consigo ver graça nisso. E, aliás, não sei como os jovens gostam disso. E até "senhoras" adoram essa onda, suspiram por esses vampirinhos.
Danou-se tudo, Nivaldo! O mundo está louco, loucão, e somos os únicos lúcidos por aqui, hahahaha.
Ok, nós e uma parcela ainda pensante da população.
Um abraço!
Saudade de te ler.
Nunca fui vampiormaniaca, mas Crepúsculo realmente acabou com os vampiros! Li os quatro livros (tempo perdido, eu sei) e é lamentável parar e pensar que há realmente quem consiga achar a série "incrível"!
ResponderExcluirPrimeira coisa que fiz hoje foi abrir o Pioneiro e ler tua coluna, apesar de ser suspeita por sempre adorar o que tu escreve, devo dizer que a de hoje foi especial de tão boa!
Até mais.
Erica e Ana, minhas musas inspiradoras da criação deste blog, sempre é um luxo saber que vocês passaram por aqui. Eu já fui mais fã dos vampiros, adorava o Drácula e o Lestat da Anne Rice, mas nos últimos tempos, com a banalização do tema, fui perdendo o pique. Acho que depois dessa exposição à luz do sol e das vitrines, eles vão voltar pra tumba por um bom tempo. Beijos
ResponderExcluirAqui é a irmã chata da Ana, heheheh
ResponderExcluirPois é, quando li tua coluna, quase chorei de emoção ao ver uma opinião não-veneradora - e PUBLICADA! NEM ACREDITO - dessa babaquice modista.
Sempre adorei o vampirismo, tanto mitológico quanto literário, e me dói a alma vê-los banalizados. Ultimamente dá vergonha dizer que gosto da mitologia vampiresca, porque o que ocorre às cabeças vãs é exatamente 'aquilo' - que, nas palavras do meu pai, é tudo menos vampiro!
Pois é, eu, que já te admirava muito, agora te admiro mais ainda, por saber que compartilhamos dessa opinião!
Um abraço,
Elisa.
OOOOOOOOO sooora
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